sábado, 22 de outubro de 2011

a nossa viagem


Querido X,
lembro-me do dia em que viajámos juntos.
estávamos os dois ansiosos e irrequietos à espera da chegada do nosso comboio.
o dia estava já a escurecer, e a estação vazia. o relógio marcava uma hora tardia, e não se ouvia claramente nada. só as nossas respirações. durante aquele período de tempo, éramos as únicas presenças daquele lugar, e o destino estava exclusivamente reservado para nós os dois.
a bilheteira estava já fechada, e a voz da estação dizia que o nosso comboio estava prestes a chegar, o que fez acelerar muito mais os nossos corações, mais do que já estavam. quando o ouvimos a chegar rapidamente nos levantamos e pegamos nas nossas malas, cheias de tudo. aguardamos a sua paragem, e finalmente a porta abriu-se. uns sorrisos esboçaram-se nos nossos rostos e tinhamos os olhos serenos. entrámos, e assim começou a nossa viagem no tempo. o nosso tempo. cheirava a uma primavera fresca, acompanhada de uma felicidade imensa que ambos sabíamos que íamos partilhar e fazer crescer. a paisagem da janela era de encantar. pássaros voavam livres em conjuntos imensos. as primeiras flores rebentavam em praticamente todas as árvores. a brisa era muito calma e transmitia-nos uma paz desconhecida. era a nossa viagem. era a nossa vida que estaria ali, naquele momento a começar. era o ínico de um amor profundo, verdadeiro e sem pressas.
agora que ambos partimos num comboio diferente, estamos em lugares distantes, mas mesmo assim ainda consigo sentir o cheiro daquela primavera que ficou no teu cabelo. foram dias incomparáveis, à espera de voltarem a ser vividos, tal como eu espero voltar a ir à estação e entrar outra vez, no mesmo comboio que tu. por enquanto, fico aqui sentada num banco, mesmo ao lado do relógio que parou no tempo desde que nós os dois partimos. sei que só voltará a funcionar quando o nosso comboio finalmente chegar outra vez. até lá irei continuar à espera que te cruzes no meu caminho. até lá continuo com o bilhete na mão, à espera que tu compres um para o mesmo destino. sabes que para nós a estação não fecha, mas mesmo assim, não demores.
Com amor, daniela.